domingo, 4 de outubro de 2009

GAIOLA CHAMADA DE "EU"

Estou preso aqui, nessa gaiola que chamo de EU. E minha vida por si só não é suficiente pra infundir propósito, e sentido, nesse mundo mudo. Sofro com uma falta tão grande que é impronunciável, desejo alguma coisa que não sei se existe e que só sei do que não se trata. E daí me fascino com tudo aquilo que me tira de mim e me absorve, a música, as mulheres. As pessoas chamam isso de fuga, e o Deleuze vem genialmente com a "linha de fuga" de todo devir. É, são fugas - fugas desse mundo moderado, medíocre e faltoso que habito cotidianamente. São fugas da gaiolinha do eu, rumo a qualquer coisa minimamente grandiosa e grandiosamente minima. Daí a vontade de intimidade, de uma intimidade intocada por minha presença, uma pureza daquilo que é totalmente outro. Um Outro procurado naquilo que eu não enxergo e que potencialmente é tudo. Não necessariamente quero remover o véu. Não necessariamente quero despir as mulheres com as quais flerto. É a minha perversão. Só quero uma espiadinha nos jardins do éden, as vezes visível nas fissuras da pele do rosto da Colombina do momento. Só isso por enquanto, mas quando acontece, eu sempre passo a desejar outra coisa; porque é assim que é devir, e ir devindo. Devenho-mulher para poder devir qualquer outra coisa. E assim viro estrela e canção

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